sábado, 14 de abril de 2012

O paraíso de Cézanne

Parágrafos retirados do livro "O Paraíso de Cézanne" de Phiplip Solers. Lamento que o autor tenha citado Picasso e Matisse e não Braque.

Gosto de numerosos pintores (e muito de Picasso) mas nenhum me cormove tanto, sem que o explique, quanto Cézanne. Tento a toda hora entender essa emoção descomprometida, violenta. Parece trata-se de uma emoção do próprio pensar além de toda representação. A devoção religiosa de Picasso e Matisse a Cézanne parece-me normal. "Cèzanne é deus. Sim, mas qual? Não um deus oculto, certamente. "Próximo e difícil de apreender, o deus," diz Hölderlin. Muito próximo. Infinitamente póximo. E tanto mais difícil de apreender.

Os Cezannes que pertenceram a Picasso estão ali, em sua casa, como uma fonte que ele reconhece, um fundamento confessado, e também uma crítica. Como se Picasso tivesse pretendido manifestar, com ests inclusão, que alguma coisa, neste reinventor "divino" da pintura, tenha sido desconsiderada, esquecida, enquanto se parecia ter pressa em segui-lo fervorosamente. É uma estranha experiência descobrir de repente que Cézanne não conduz necessariamente a Picasso, mas ao contrário, vem de novo depois dele. Um outro "antes"? Um outro "depois? Uma desorientação da história da arte, tão arraigada a suas classificações, seus encadeamentos, suas causalidades mecânicas? Uma outra pergunta da história? Cézanne como questão de fundo dirigida à arte moderna, a qual, antes de se decompor diante de nossos olhos, teria pretendido tê-lo assimilado ou ultrapassado? Cézanne como recusa do mito da modernidade, sem que se possa de modo algum uma volta ao passado? Cèzanne não passando, mas tornando-se sem cessar o que ele foi?

Qual o tempo de Cézanne?

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