domingo, 29 de abril de 2012

Como somos envelopados pelas cores? Pergunta que me fez o crítico de arte Guilher Bueno

Certa ocasião o crítico de arte Guilherme Bueno me perguntou como somos envelopados pelas cores? Tentarei agora responder.

Creio que somos envelopados pelo cinza sempiterno. Este é um pré ou pós fenômeno, as cores para ele convergem e divergem.  É um ponto, não possui nenhuma dimensão, mas é potencialmente ativo, dele podem surgir todas as cores de um determinado colorido, este então como um fenômeno.  E cada cor possui seu exclusivo cinza sempiterno assim como seus respectivos rompimentos. Um colorido é uma seção do espaço, ou uma fração deste, e seus cinzas sempiternos nos são  interditado, assim como o cinza onipresente. Imagináveis ou inimagináveis. Por consequência também nos é interditado um colorido total. Desta forma creio em uma aproximação com as questões cromáticas da geometria dos fractais.
Cézanne nos diz que entre o objeto (o quadro) e o pintor se interpõe um plano, a atmosfera. Podemos então afirmar que ora estamos dentro desse espaço, que é gerado tanto pelas cores com seus respectivos cinzas sempiternos, como o do próprio colorido pelos contraste, convivência e a dinâmica entre as cores que o conformam. Aqui outra aproximação: a do espaço plástico com a topologia. Há uma fronteira entre a atmosfera gerada à frente do quadro com o espaço no qual nos orientamos.
Dessa forma podemos afirmar que ora estamos dentro da atmosfera gerada pelo quadro ou fora dele, ou seja, no espaço no qual nos orientamos. No primeiro caso estamos envelopados pelo cinza sempiterno – ou pelas cores nele contidos – cinza este gerado pelo colorido do quadro. No segundo caso estamos envelopados pelo colorido do espaço no qual nos orientamos no qual também se manifesta um cinza sempiterno.
Será que podemos dizer que se estivermos envelopados pelo cinza sempiterno que se manifesta no quadro a nossa natureza se manifesta? E se no espaço no qual nos orientamos simultaneamente na natureza em si? Afinal Cézanne quando questionado por Émile Bernard sobre qual natureza se referia respondeu: “A minha natureza e a natureza em si.”

Agora uns adendos (excluímos a palavra conclusão).
Se me perguntarem se sou religioso diria que sou ateu. Mas se me perguntassem se acredito de deus diria sim na medida em que é uma lógica e esta só em uma parte me é acessível. Afinal, como dizia Einstein, deus não joga dados. Mais uma vez vale relembrar Cézanne quando ele afirmou que “a arte é uma religião.” Referriu-se também uma lógica nada absurda.
Segundo: será que todas essas observações podem nos levar a pensar em uma geometria das cores, embora não tenhamos ainda uma equação para comprová-la? Talvez seja oportuno citarmos dois artistas. Um deles Braque quando ele diz que “explicar uma coisa é substituir a coisa pela explicação.” O outro Barnett Newmann quando ele afirma que “a arte está para a teoria assim como o pássaro está para a ornitologia.”
Para interromper (excluo aqui a palavra terminar) cito agora uma frase de Philippe Sollers retirada do livro O paraíso de Cézanne, na qual o autor faz uma referência a um dos conceitos de tempo comum dos gregos, o aión: “Qual é o tempo de Cézanne?”
Outra do próprio Cézanne: “Não obstante a natureza é bela.”

José Maria Dias da Cruz
Florianópolis, abril de 2012.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Peão Coroado - o/s/t - 460x40cm


Óleo sobre tela, 60 x 40cm, 2011 de José Maria Dias da Cruz.


Objetos que exigem um espaço exclusivo são absorvidos por um espaço plástico que permite, por conta da manifestação do cinza sempiterno, que nelese incluam e, assim, permitindo uma convivência entre esses objetos. O suporte mede 60x40cm, mas como há um plano que se interpõe entre o quadro e o observador, o espaço plático torna-se maior. "Como medimos?" Verso de Michael Palmer. O título do quadro poderia ser: O peão coroado.

José Maria Dias da Cruz

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aión ou eternidade egipcia - o/s/t - 60x40cm - 2011


Natureza Morta



 


A novidade é que retornei às naturezas mortas. Segue a terceira que pintei, e creio que já está melhor que as anteriores. Estou pensando em depois escrever algo para acompanhá-la. O título ainda estou
pensando; Aión, Eternidade Egípcia e o Cinza Sempiterno? Já fiz alguns desenhos, assemblages de pintura e poesia, abordando essa questão: será que perdemos o sentido de eternidade egípcia?  Nessa natureza
morta todos os objetos estão pintados frontalmente e criam conjuntos. T de torre e tampa; P de peão, pote e pera; E de escaravelho e espelho. O escaravelho de outra espécie era cultuado no antigo Egito. O que está pintado é mais agressivo. Daí a torre para nos abrigar e proteger, ou o pote tampado para que se possa guardar algo. A maria-sem-vergonha gestalticamente exigiria um espaço plástico exclusivo. Mas a manifestação do cz semp, que cria um espaço plástico que permite que ouros objetos dele se incluam, absorve-a. Nosso olhar primeiro, por conta dessa flor, é logo sincrético. Vemos o todo. O olhar mais analítico se faz depois se quisermos. Isto também pela atmosfera que se cria entre o quadro e o pintor, como nos ensinou Cézane. (na foto isso pouco se vêm, mas com o quadro ao vivo percebe-se mesmo.) Temos, então uma questão topológica, pois há uma fronteira entre esta atmosfera e o espaço no qual nos orientamos. O curioso é que essa atmosfera tende mais para o azulado, mas há uma outra criada pelo espelho, essa mais amarelada. Duas atmosferas em processo de harmonização e desarmonização que criam uma dinâmica que se reorganiza em outro nível de realidade, e aí está o que sempre discuto, vida morte e ressurreição. E tem as questões temporais, no caso o Aión, ou o tempo das coisas, assim como está no Eclesiastes: "Todas as coisas têm seu tempo."

quarta-feira, 25 de abril de 2012



 
 A Velhice e a juventude e os auto-retratos de Rembrandt, um trecho de um e-mail de Antônio Augusto Mariante e um adendo escrito por José Maria Dias da Cruz


Estou hoje lúcido como se estivesse para morrer
Àlvaro de Campos (Fernando Pessoa)


 
“Pelo amor de Deus, não se preocupe também com o envelhecimento - é o preço de uma vida em sua extensão em franco alongamento. Sei que há percalços de natureza física, mas isso faz parte do próprio movimento da mera natureza das coisas. Vejo a velhice como o ponto de culminância de um sujeito, onde mente e espírito atingem o ápice daquela individualidade - entretanto, tal situação só se dá com criaturas de escol, e pouco importa que sejam até analfabetas, pois o relevante não é a cultura adquirida, mas a sabedoria alcançada. Adoro uma negra velha bem sábia, dessas que calejaram suas mãos num tanque e numa cozinha, e se afirmam quase puras quando a morte as abraça.

Entretanto, não é bem esse o caso da maioria dos velhos que tenho encontrado pelo caminho de minha sensibilidade: eles se impõem pelo retrocesso e pela infantilidade, negando a morte como um bom avestruz ou um tola criança inglesa que se recusa a emprestar seu teddy bear.

Adoro John Huston que dirigiu The Death (baseado num conto de Joyce) numa cadeira de rodas e com uma sonda pavorosa entrando por uma das suas narinas. O filme é chato, mas a iniciativa dele é sublime.

Portanto, não se aflija e toque o cavalo no touro! Pinte até o fim! E o resto que se dane!”

Antônio Augusto Mariante