Quem visita o Louvre encontra em uma das principais alas alguns quadros de Delacroix, entre eles um bastante citado por historiadores, críticos, etc., o quadro intitulado A Liberdade Guiando o Povo. Mas em outra ala, bem menor, vai se deparar com o quadro A Lagosta, pintura para pintores. O tema pricipal é a vida e a morte, mas é também um olhar romântico para a situação político e social da Europa.
Nesse quadro de Delacroix há uma discussão bem complexa sobre a vida e a morte, e o curioso é que a morte, está
representada pelos animais em primeiro plano: as lagostas, a lebre e os
pássaros pintados em "cores vivas", menos um réptil anfíbio, uma
salamandra, que esta viva. E a salamandra é um ser mítico que está bem
presente no imaginário de alguns povos. No lado direito, abaixo, há um
plano, com uma mancha escura acima, que pode ser um muro, e nosso olhar
não consegue ir além dele. No lado esquerdo, em contraponto, há um outro
espaço, este com linhas inclinadas, como se esboçasse um caminho que
nos possibilitasse chegar ao segundo plano onde se nota, em tons mais
brandos, bem distantes, uns cavaleiros, portanto, uma representação de
coisas vivas. Curioso esse contraste. Há ainda as questões cromáticas.
Predomina um contraste alaranjado-violáceo que potencializado faz surgir
um esverdeado, e isso era teorizado pelo pintor que afirmava que na
natureza tudo se resumia ao acorde laranja, verde e violeta. Repare que
os esverdeados no quadro, menos evidentes, estão todos rompidos. Ganham
alguma evidência induzidos pelos alaranjados e violáceos. Portanto o
colorido se afirma e acaba, assim, dialogando com as formas e daí
enfatiza o narrativo, mas deixando-o subordinado à plasticidade.
Delacroix, me parece, nos aponta para o enigmático e, como já disse, nos
faz pensar na nossa própria condição, ou no miserere, isto é, na
imperfeição própria dos homens. Por isso que digo que é uma pintura
para pintores. Curioso é se constatar que um dos quadros mais comentados
e reproduzidos de Delacroix seja A Liberdade Guiando o Povo. Logo
depois o pintor, desencantado, se refugia em seu atelier onde nunca mais
pintou quadros panfletários.
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