O Cinza Sempiterno
Se misturarmos as cores primárias e secundárias segundo a
teoria cromática a partir do espectro da luz, com todas em um mesmo valor,
obteremos um cinza. Mas Cézanne se refere a um cinza que reina na natureza
dificílimo de alcançar. Portanto um cinza não resultante de misturas
pigmentares. Mas podemos partir da
experiência acima para didaticamente entendermos o cinza sempiterno. Assim como esse cinza obtido por misturas
pigmentares contém as primária e secundárias, o cinza sempiterno contém todas
as cores de um colorido. Pela experiência do rompimento do tom, considerado
agora quando há nele a sobreposição da pós- imagem e, assim, acinzentando-o - e
não por misturas pigmentares como é definido pela teoria cromática tradicional
- podemos observar que quanto maior for o tempo de observação, mais um tom se
rompe. Entretanto fisiologicamente não atingimos nunca o cinza sempiterno, daí Rilke
ter afirmado que ele não existe. Daí
podermos dizer também que as cores são enigmáticas. Podemos logicamente afirmar que todas se
dirigem para um ponto potencialmente ativo e sem nenhuma dimensão - o cinza
sempiterno. Neste caso ele é um pré ou pós-fenômeno. Façamos, então, uma
analogia com as misturas pigmentares descrita acima. Se colocarmos ao lado daquele
cinza um tom avermelhado ele se tornará esverdeado; ao lado de um azulado
levemente violáceo, amarelado; ao lado de um violáceo, amarelado levemente
esverdeado; e assim em diante. Temos nesse caso um exemplo de interação
cromática, isto é, as cores se modificando por contraste. O cinza sempiterno,
manifestando-se na natureza, passa então e ser um fenômeno. Vários pintores
coloristas afirmam que pintar é contrastar. Assim poderemos dizer que quando as
cores partem do cinza sempiterno ganham cromaticidade intensificando-se e têm
um movimento excêntrico em relação A ele e nesse caso perdem cromaticidade. Como todas as cores se rompem
ininterruptamente, ou mais ou menos, como vimos, e ocasionalmente por
contrastes, o movimento nesse caso é concêntrico.
Assim o cinza sempiterno manifesta-se na natureza como uma
atmosfera que se interpõe entre o pintor e o modelo, segundo nos adverte Cézanne.
José Maria Dias da Cruz
Florianópolis, 2012.
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