domingo, 19 de agosto de 2012

O Cinza Sempiterno

Se misturarmos as cores primárias e secundárias segundo a teoria cromática a partir do espectro da luz, com todas em um mesmo valor, obteremos um cinza. Mas Cézanne se refere a um cinza que reina na natureza dificílimo de alcançar. Portanto um cinza não resultante de misturas pigmentares.  Mas podemos partir da experiência acima para didaticamente entendermos o cinza sempiterno.  Assim como esse cinza obtido por misturas pigmentares contém as primária e secundárias, o cinza sempiterno contém todas as cores de um colorido. Pela experiência do rompimento do tom, considerado agora quando há nele a sobreposição da pós- imagem e, assim, acinzentando-o - e não por misturas pigmentares como é definido pela teoria cromática tradicional - podemos observar que quanto maior for o tempo de observação, mais um tom se rompe. Entretanto fisiologicamente não atingimos nunca o cinza sempiterno, daí Rilke ter afirmado que ele não existe.  Daí podermos dizer também que as cores são enigmáticas.  Podemos logicamente afirmar que todas se dirigem para um ponto potencialmente ativo e sem nenhuma dimensão - o cinza sempiterno. Neste caso ele é um pré ou pós-fenômeno. Façamos, então, uma analogia com as misturas pigmentares descrita acima. Se colocarmos ao lado daquele cinza um tom avermelhado ele se tornará esverdeado; ao lado de um azulado levemente violáceo, amarelado; ao lado de um violáceo, amarelado levemente esverdeado; e assim em diante. Temos nesse caso um exemplo de interação cromática, isto é, as cores se modificando por contraste. O cinza sempiterno, manifestando-se na natureza, passa então e ser um fenômeno. Vários pintores coloristas afirmam que pintar é contrastar. Assim poderemos dizer que quando as cores partem do cinza sempiterno ganham cromaticidade intensificando-se e têm um movimento excêntrico em relação A ele e nesse caso perdem  cromaticidade. Como todas as cores se rompem ininterruptamente, ou mais ou menos, como vimos, e ocasionalmente por contrastes, o movimento nesse caso é concêntrico.
Assim o cinza sempiterno manifesta-se na natureza como uma atmosfera que se interpõe entre o pintor e o modelo, segundo nos adverte Cézanne.

José Maria Dias da Cruz
Florianópolis, 2012.


Nenhum comentário:

Postar um comentário